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quinta-feira, 6 de março de 2014

O bar dos bambas!

Poucos bares, quiçá nenhum, teve tanta gente importante do mundo do samba reunida. O Zicartola (uma junção do nome de seus donos, Dona Zica e Cartola), na Rua da Carioca, 53, reuniu a nata do samba de 5 de setembro de 1963 a maio de 1965. Apesar de apenas 20 meses de funcionamento muita coisa importante aconteceram naquelas mesas.

Entre seus célebres frequentadores estava o entusiasmado Zé Keti que além de divulgar a casa a diversas rádios e jornais, o cantor e compositor teve a ideia de aproveitar a reunião de sambistas no local para realizar noitadas de samba. As apresentações no Zicartola ocorreriam nas noites de quarta e sexta-feira.

Além de Zé Keti passaram por lá Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Aracy de Almeida, Carlos Lira, Nara Leão, Paulinho da Viola (até então conhecido somente por Paulo Cesar), Ségio Cabral (o responsável pelo nome Paulinho da Viola, dizia que Paulo César não era nome de sambista), entre outros.

Conhecido como um grande compositor, Cartola era um péssimo administrador. O Zicartola fechou por causa do excesso de dividas. O ponto foi vendido para o grande Jackson do Pandeiro, mesmo assim não durou muito tempo.    

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Irmãos de talento

É difícil sair de uma mesma família tantas pessoas com tanto talento, mas não impossível. O que tem em comum Aniceto, Mijinha e Manacéa, além de serem portelenses?

Entraram para história de Oswaldo Cruz. Irmãos de escola e de nascimento, fizeram parte das maiores glórias da Portela.

Aniceto era o mais velho, nasceu em São Paulo mas aos 4 anos de idade já morava no Rio onde, em Osvaldo Cruz cresceu, se casou e escreveu diversos sambas lindos, entre eles Desengano, Quem me ouvir cantar, Madrugada, Eu perdi você, entre outros. Faleceu em 1981.

Desengano

Madrugada, interpretada por Tia Surica

O irmão do meio, Mijinha, grande boêmio e grande sambista também. Escreveu, entre outros, Chega de padecer e Sentimento.

Sentimento, interpretada por Monarco.

Chega de Padecer

E o mais novo da turma, mas não menos importante e, talvez, o mais conhecido dos três, foi Manacéa. Foi cantado e gravado, muitas vezes, por Cristina Buarque responsável por eternizar um dos sambas mais bonitos de todos os tempos, Quantas Lágrimas, em 1974.

Manacéa participou de todos os discos da Velha Guarda: "Portela, passado de glória" (1970), "Doce Recordação" (1986), "Homenagem a Paulo da Portela" (1988) e "Tudo Azul" (2000). Também participou do Programa Ensaio produzido pela TV Cultura em 1974 e do disco "História das Escolas de Samba - Portela" produzido pela Marcus Pereira em 1974.

Quantas Lágrimas, interpretada por Cristina Buarque

Programa Ensaio

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Tudo começou no Estácio...

Tudo começou no Estácio, mas pra quem pensa que a primeira escola de samba foi o Estácio de Sá eu digo, não foi. Criada em 28 de agosto de 1929, no bairro do Estácio, a agremiação Deixa Falar é considerada a primeira escola de samba do Brasil.

Escola de Samba Deixa Falar
Apesar de ter durado pouco tempo (findou em 1933, quando se juntou com o bloco União das Cores e foi rebatizado de União do Estácio de Sá) e nem chegando a participar dos desfiles oficiais do Rio de Janeiro, a Deixa Falar abrigou grandes sambistas, Ismael Silva (responsável pela escolha do nome), Bide, Marçal, Mano Rubem (líder do bloco "A União Faz a Força", de onde vieram as cores vermelho e branco da Escola), entre outros.

Marçal, Paulo Barcellos e Bide, fundadores da Deixa Falar, posam no meio das pastoras
Foi na Deixa Falar que foram intriduzidos ao samba 3 instrumentos muito tradicionais no samba, o Surdo, através do Bide, feito com lata de manteiga de 20 quilos, papel de saco de cimento e amarrado com arame e taxinhas (eram usadas taxinhas porque as tarrachas eram proibidas pela polícia, diziam que tarrachas nas mãos de negros eram armas), a Cuíca e o Tamborim.
 
Oswaldo Boi de Papoula, 1o. presidente da Deixa Falar, ao lado de Ismael Silva
 
 
 
Mestre Marçal cantando Velho Estácio, de Bide e Marçal

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Samba-Canção, obra da Vó Mima



Lupicínio e Lourdes Rodrigues
Esse eu aprendi a gostar com a minha avó. Antigas noites em Cidreira, onde na rede da varanda ela cantava para mim pérolas do samba-canção entre elas Ronda, ao meu ver um clássico na boemia. E aprendi a amar ouvindo Lourdes Rodrigues cantando Lupicínio nas noites de Porto Alegre, claro, acompanhado também pela minha avó. Por isso, junto do partido-alto, este é o estilo de samba que mais gosto. A tristeza, o amor impossível e a dor de cotovelo é cantado de modo melódico e muito emotivo. Um tipo de samba que, se bem cantado, faz todo mundo se emocionar.


Herivelto Martins


O samba-canção teve seu crescimento da decada de 30 mas teria seu apogeu nas de 40 e 50 com as célebres letras de Lupicínio Rodrigues e Herivelto Martins nas vozes de Elizeth Cardoso, Jamelão, Nelson Gonçalves, Dalva de Oliveira, entre outros. Grandes sambistas, que tinham raizes em outros gêneros, também tiveram grandes sucessos nesta linha mais melódica, Noel Rosa, Cartola, Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Ataufo Alves, entre outros.





Ronda, cantada por Jamelão

 Loudes Rodrigues falando e cantando Lupicício do programa Música na Noite

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Jongo, o africano brasileiro

Essa postagem tem influência de um amigo, o Duda, do Instituto Brasilidades. Vou falar um pouco sobre o Jongo (também conhecido por Caxambu), que é mais um ritmo de origem africana (tipo de Umbigada), trazida pelo escravos ao Brasil e que influenciou muito o Partido Alto. Para muitos sambistas o Jongo é o avô do Samba.

Os jongueiros eram verdadeiros poetas-feiticeiros, xamãs, que se desafiavam nas rodas de jongo para disputar sabedoria. Com o poder das palavras e uma forte concentração, buscavam encantar o outro por meio da poesia do ponto de jongo.


 O jongo é uma dança dos ancestrais, dos pretos-velhos escravos, do povo do cativeiro e, por isso, pertence à "linha das almas". Contam que aquele que tem a "vista forte" é capaz de enxergar um antigo jongueiro falecido se aproximar da roda para relembrar o tempo em que dançava o caxambu. Contam também que alguns jongueiros, à meia-noite, plantavam no terreiro uma muda de bananeira que, durante a madrugada, crescia e dava frutos distribuídos para os presentes.

Os versos do partido-alto e do samba de terreiro são inventados na hora pelo improvisador. Esse canto de improviso nasceu das rodas de jongo. A umbigada, que na língua quimbundo se chama "semba", originou o termo samba e também faz parte do samba primitivo. A "mpwita", instrumento congo-angolano presente no jongo, é a avó africana das cuícas das baterias das escolas de samba.

Abaixo dois vídeos explicando um pouco mais sobre o Jongo.


terça-feira, 24 de julho de 2012

Do Império para o mundo... Silas de Oliveira

Nascido em 4/10/1916, em Madureira, Silas de Oliveira veio ao mundo para nos presentear com grandes sambas-enredo, principalmente no que tange ao seu amado Império Serrano (criado por ele, Mano Décio da Viola, Fuleiro, Rufino, Sebastião de Oliveira, entre outros em 1947, uma debandada da escola Prazer da Serrinha, na qual faziam parte).



Silas dava aulas de português na escola de seu pai quando começou a namorar uma das alunas, a jovem Elaine dos Santos. Nessa época também fez amizade com o jornaleiro Mano Décio da Viola, que se tornaria seu maior parceiro. Pelas mãos de Elaine e de Mano Décio, Silas sobe os morros cariocas atrás de rodas de samba. Com os dois, freqüenta também os tradicionais pagodes nas casas das tias baianas, regados a muita bebida, comida e batucada.

Seu primeiro samba veio em 1934, Meu grande amor. Depois deste vários outros vieram, mas a obra prima Aquarela Brasileira,  nasceu em 1964.


Silas de Oliveira faleceu apresentando seus sambas no Clube ASA, em 1972. No seu enterro o então presidente da Portela, Natalino, mandou tocar o samba Heóis da Liberdade, cantado até hoje nos funerais de sambistas.


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Você sabe o que é uma Umbigada?

Ano passado, no evento em que o Instituto Brasilidades faz comemorando o Dia Nacional do Samba, presenciei minha primeira umbigada. Fiquei impressionado com aquele ritmo e até arrisquei uns passinhos, mas não quis me comprometer, afinal, este não é o meu forte. O importante é que fiquei com isso na cabeça e, como um adorador de samba que sou, fui procurar saber mais sobre aquele ritmo alegre e feliz.

A Umbigada é uma dança que chegou ao o Brasil a partir do Século XVII junto com os negros africanos trazidos como escravos pelos colonizadores portugueses.


Os passos são executados por pares soltos que, saindo em fileiras, circulam livremente pelo terreiro. Mas, o elemento principal da coreografia é a "umbigada", ou seja, quando o ventre da mulher bate à altura do ventre do homem. Os dançadores dão passos laterais arrastados, depois levantam os braços e, batendo palmas acima da cabeça, inclinam o corpo para trás e dão vigorosas batidas com os ventres. Esse gesto é repetido ao fim de todos os passos.

Um batuqueiro solista que também e chamado de "modista" faz "poesia" ou "décima". Quando "afirmam o ponto", ou seja, decoram, repetindo texto e música, o primeiro a dar umbigada é o "modista'. Os demais batuqueiros começam a dançar. Dão umbigadas sempre presos ao ritmo dos instrumentos de percussão que acompanha a cantoria (o tambu, o quinjengue e a matraca). O Modista empunha um instrumento, espécie de chocalho chamado "Guaiá" que marca o rítimo das trovas.